Livros que eu li: "Roberto Civita o Dono da Banca", de Carlos Maranhão


Acabo de ler a segunda biografia em seguida (a primeira foi o ótimo livro de Rita Lee). A história de Roberto Civita tem uma ligação muito pessoal comigo. Por isso mesmo foi bem triste ler as páginas finais, que descrevem sua morte - e a melancólica queda do império que ele ajudou a criar. 

O fato é que eu tenho diploma de Jornalismo, mas minha educação sempre foi auto-didata, desde criança. Tive um período excepcional na escola, no equivalente ao curso ginasial. O resto foi muito ruim, e todos sabemos como é péssima a educação brasileira - e como piora cada vez mais.


Eu me eduquei na verdade com os livros de Monteiro Lobato. E principalmente com as coleções de fascículos da editora Abril, uma iniciativa de Victor Civita, pai de Roberto, Victor. Eu devorei com fúria cada fascículo da coleção Conhecer e aprendi muito com com coleções sobre artes, música clássica, etc. Um dos momentos mais marcantes da minha adolescência foi fazer um estágio na redação de Conhecer, ainda na rua João Adolfo.

O livro de Carlos Maranhão mostra que Roberto Civita nunca gostou muito de nada disso. Seu foco estava especialmente na revista Veja. E essa foi uma das principais razões da queda da Abril. Um dos poucos defeitos dessa biografia é, refletindo o próprio Dr Roberto, dar atenção demais às fofocas e brigas internas de poder que aconteciam na Veja - quando havia tanta coisa acontecendo ao seu redor.


Depois desse estágio na Conhecer, tive outras duas experiências profissionais na Abril. Nos anos 1980 fui convidado (por Paulo Moreira Leite) a ser o comentarista de cinema da Veja. Foi um período curto, que eu aproveitei com intensidade. Mas as condições de trabalho (no edifício da Marginal do Tietê) eram desumanas , e isso é reconhecido no livro de Carlos Maranhão. Fiquei alguns poucos meses e pedi demissão.

Em 1997, fui convidado pelo então diretor de núcleo Paulo Nogueira a ser um dos editores da revista VIP. Seguirem-se os 10 anos mais produtivos (e divertidos) de minha carreira de jornalista. Tive liberdade e apoio para exercer na integridade minha visão de imprensa - mais livre, mais criativa, mais ligada à vida real dos leitores. Em 2007 fui demitido num daqueles cortes para enxugar despesas. Lá dentro fiz o possível para alertar a editora sobre os novos rumos marcados pela digitalização e pela internet. Infelizmente (e Roberto Civita reconheceu isso), a editora permaneceu presa ao papel e a métodos obsoletos.


Mesmo assim, eu jamais deixei de me considerar um "abriliano" e continuo colaborando com a revista VIP. Por mim, jamais vou deixar de escrever para as publicações da editora. Roberto Civita foi um excelente patrão. Ele tinha princípios sólidos com os quais eu me identificava, e lutou por eles nas piores condições. O linchamento político a que foi submetido foi vergonhoso e incluiu cenas dignas da Alemanha hitlerista. Sou e serei sempre grato a Roberto Civita, com quem nunca conversei pessoalmente. E para quem eu era só mais um funcionário com o crachá verde e branco da arvorezinha.  














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