Uma imagem para sempre: The Living Daylights em quadrinhos


Certas imagens nos marcam para sempre. Este quadrinho de abertura de The Living Daylights aí em cima é o caso. A serie de tiras foi lançada em setembro de 1966 em Londres e alguns meses depois chegou aos jornais brasileiros.

Eu tinha então de 13 para 14 anos, estava descobrindo o mundo e já era fissurado por James Bond. Não conseguia tirar meus olhos desse quadrinho, desenhado pelo mestre russo/australiano Horak. Essa imagem concentrava a complexidade e a tensão explosiva do panorama político internacional. O conto The Living Daylights já era um dos textos mais sombrios, trágicos e surpreendentes escritos por Ian Fleming, o criador de Bond. Em tiras de quadrinhos (adaptadas pelo roteirista Jim Lawrence) Daylights ficou ainda melhor. A história seria aproveitada e daria o nome ao décimo quinto filme de James Bond estrelado por Timothy Dalton em 1987. Vi o filme, li o livro original. E até hoje prefiro os quadrinhos.

Estas são as quatro primeiras tiras de The Living Daylights. Clique nelas para ampliar.


A tira 1 mostra a técnica muito pessoal de Horak, misturando extremo realismo na paisagem com figuras humanas ligeiramente caricaturais. Tudo desenhado em alto contraste, preto no branco. No primeiro quadrinho um carro blindado soviético faz a sua ronda. Os inevitáveis holofotes vasculham tudo em busca de fugitivos. A legenda estabelece a situação: "O muro de Berlim... A sombria terra de ninguém da guerra fria... Armadilha mortal para incontáveis fugitivos de Berlim Oriental..." No segundo quadrinho, um passageiro entra num táxi no lado oriental. Saberemos depois que passageiro e motorista são dois agentes britânicos infiltrados no lado soviético. Klaus, o motorista, está espantado: "Meu Deus. Você é 272? A KGB inteira está atrás de você!". "Continue rodando", diz o agente 272. "Eu vou te mostrar exatamente onde eu pretendo cruzar o muro".


Na tira 2, Klaus, o motorista diz que é impossível atravessar o muro. O agente 272 diz que com o material que está transportando, não tem outra escolha. E por isso mesmo escolheu faz tempo o melhor ponto do muro para a fuga.



"Os pedregulhos e a vegetação alta nesse ponto vão esconder a minha aproximação", diz 272 na terceira tira no local escolhido. Seu plano é tentar a fuga em dias sem luar. Pede a Klaus que garanta um carro veloz esperando no lado ocidental. O tempo para a operação é muito curto: os holofotes iluminam o local a cada 30 segundos.


Na tira 4, Klaus insiste que o plano é uma loucura e pede a 272 que passe a informação num microfilme. 272 diz que a informação está em sua cabeça. E manda avisar a segurança britânica que ele vai tentar a fuga no período entre as próximas terça, quarta ou quinta-feiras. 272 parte. Vinte minutos depois, Klaus está no escritório do "Camarada Coronel" da KGB denunciando o plano de 272. E os leitores ficam sabendo então que Klaus é um agente duplo. James Bond só aparece na décima tira.

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