O último conselho de José Wilker (1947-2014)



Eu conheci o José Wilker quando assisti a inesquecível novela O Cafona em 1973. Catorze anos depois, trabalhei com ele. Entre maio e novembro de 1987 fiz parte (com Mario Prata e Reinaldo Moraes) do time  que escreveu a telenovela Helena para a Manchete. Wilker era o diretor artístico da rede.

Nas reuniões que tivemos, ele me pareceu ser um bon vivant sem muito apego ao cargo. Facilitou nossa vida o mais que pôde naquela dura travessia. Mas o dia mais marcante dessa convivência foi justamente o último. Acabada a novela, tentamos renovar o contrato. O Wilker nos avisou que a renovação era impossível por causa da situação instável do departamento de dramaturgia. E gentilmente nos convidou para uma despedida na casa dele.

Num domingão carioca fomos os 3, o Prata, o Reinaldo e eu. Logo conhecemos sua famosa sala de vídeo com as paredes forradas de filmes ainda em fitas VHS. Ele nos convidou a uma sessão de cinema. Imaginei que teria que aguentar um Visconti, um Buñuel,um Resnais ou quem sabe um Bergman. E o Wilker, o homem do cinema-cabeça, deu o play no Apertem o Cinto o Piloto Sumiu 2. Sua esposa da época (e atriz em Helena), Monica Torres, providenciou os comes e bebes. Passamos a tarde rindo com o filme no sofazão da sala, dando um tempo nas apreensões com o nosso futuro profissional.

Na saída, Wilker se despediu do amigo Prata. E disse uma única frase para mim e para o Reinaldo: "Nunca desistam de escrever". Na hora me pareceu um conselho redundante e formal. Mas a vida me ensinou que essa simples frase seria fundamental como uma bússola.

Comentários

Thales Guaracy disse…
É isso aí, Dagomir. O segundo conselho podia vir também do Wilker: nunca desistam de morrer. Rs! Abs

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