Os filmes que marcaram minha vida: Satyricon (1969)


Em 1969 eu tinha 16 anos e frequentava o cine Bijou, bem no centro de São Paulo. Era um cinema "de arte", extremamente liberal para aceitar menores de idade em filmes proibidos a 18 anos. Foi como um adolescente impressionado que assisti Satyricon várias vezes seguidas. 


Federico Fellini ainda era um mito em construção. E Satyricon, seu filme menos "popular". Ele adaptou (com Bernardino Zapponi e Brunello Rondi) a crônica escrita por Petronio sobre a decadência do império Romano e o início da era Cristã. Tudo é absolutamente exagerado e artificial. Hoje é um clichê dizer que ao assistir um filme de Fellini você vive seu sonho. No caso de Satyricon, se vivia um pesadelo. 


Uma das razões para Satyricon chocar tanto na época foi o retrato explícito do homossexualismo em Roma como algo absolutamente corriqueiro.  Para um garoto com os hormônios em fogo como eu, a principal atração era a figura da ninfomaníaca: uma mulher que permanecia amarrada numa carroça no deserto, implorando a qualquer homem que passasse por lá que a possuísse.


Provavelmente o que me atraiu tanto em Satyricon foi o fato de não ser concebido para ser racionalizado. Era um filme para os sentidos. Ele vagou pela minha memória por décadas como um fantasma. Quando enfim foi lançado em DVD, pude viver o pesadelo de novo: a indescritível e hipnótica trilha sonora, o vento soprando o tempo todo, os doentes implorando a cura a um hermafrodita, os porcos gigantes no rolete do bacanal, a luta com o minotauro, o cavalo branco tentando escapar do terremoto.


O trailer:

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