A falta que o pai faz


Ontem meu pai faria 83 anos e eu passei o dia angustiado como se ele tivesse acabado de morrer. Na verdade, Decio Marquezi se foi num dia de 1990 que me assombra até hoje.


Quando eu nasci ele era um vendedor de louça sanitária, saído da pobreza absoluta para uma classe média apenas confortável. Tinha só o curso primário. Entregou a mim (e também à minha irmã e minha mãe Dirce) seu total sacrifício para que nada nos faltasse. Trabalhava como um louco para pagar as enciclopédias e coleções de fascículos que eu pedia a ele. Nem abria os livros. Seu amor era incondicional.


Meu pai nos ensinou o que não estava nos livros - princípios éticos, espalhar gentilezas e sorrisos pelo mundo, a ausência de qualquer violência física ou verbal, as delícias da música caribenha (especialmente rumbas e cha-cha-chas), o fanatismo por rádios, e a paixão pelo meu time. Quando meu filho nasceu, o que mudou foi o tipo de música caribenha (reggae). De resto eu apenas transferi para o Icaro o pacote da minha educação paterna.  E tenho certeza que o pacote vai seguir em frente.


Diva, minha irmã, lembrou muito bem: não tem jeito melhor para lembrar do nosso amado Decio do que chamar Al Jolson para cantar "Mammy":

Comentários

Divanir Marquezi disse…
É, Dago, não dá pra esquecer ou pra deixar de ficar angustiado num dia como ontem, né. Depois de muito refletir e tentar resolver a razão do nó que sentia nos grugumilos (tão Decio, isso), percebi que dia era ontem. Feliz aniversário, baixinho. Saudade. Mas espero que ele tenha passado um dia muito feliz, ouvindo o Al Jolson com a Dirce e dançando muita rumba.
Unknown disse…
Emocionante homenagem para o Daddy, Dagô. Teve, merecidamente, um feliz aniversário.Grande abraço.
Dagomir Marquezi disse…
Obrigado Jo!
Diva: será que ele ouviu o Al Jolson ao vivo?
Wagner Odri disse…
Décio Marquezi, pena que convivi pouco com ele, mas tenho ainda a lembrança daquele senhor sempre sorridente e simpático.
Ricardo Soares disse…
O meu pai era de 1928 como o seu , ao que parece... teria feito 83 anos em 11 de novembro e se foi em 1996. Eles nos deixaram cedo demais mas creio meu amigo que de certa forma continuam na gente quando acreditamos no pacote de ternura e amor ao próximo que eles tinham. Tenho orgulho do meu pai como vc tem do seu. Chavão ou não eles sim foram heróis. Bela homenagem a sua. Aquele abraço.
Que emoção, Dagô! Queria ter conhecido seu pai, acho que a gente ia se dar muito bem. Um beijo,
Dagomir Marquezi disse…
Falou bonito, Ricardo! Eu nunca vou agradecer o suficiente o que meus pais fizeram. Quando a gente fica sabendo de histórias tristes de criação, valoriza ainda mais. Abração!
Dagomir Marquezi disse…
Bazinha: não tenho dúvida que você ia se dar muito bem com o grande Decio. Todo mundo gostava dele, mas você seria especial, tenho certeza.
Dagomir Marquezi disse…
Oi, Wagner! Que legal que você ainda tem alguma lembrança do Décio... Quando ele se foi comecei a me agarrar a qualquer figura paterna que me passava na frente. Incluindo o insubstituível seu Zé...

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